sexta-feira, 21 de maio de 2010

Exposição no Museu da Água - Barbadinhos

Sopro de Água apresenta pintura e fotografia de Manuela Justino que, em constante luta pela recuperação das fontes e dos chafarizes, faz desta vez a homenagem à Fonte Luminosa da Alameda Dom Afonso Henriques em Lisboa.

As fontes - lugares de eleição que a poesia imortalizou - são espaços que devem estar ao serviço do público. Quantas fontes e chafarizes em Lisboa sufocam os seus segredos numa secura. Alguns resistem com incessante dignidade como se esperassem, pacientemente, que lhes matem a sede, para voltarem a matar a sede a toda a gente.

"O que importa é a paragem, não a passagem ou o privilégio que sempre tem sido seu, de parar enquanto passa, de passar enquanto pára." David Mourão - Ferreira



FOTOGRAFIA














Farei jorrar rios por entre montes desnudados,
e fontes por entre vales.
Transformarei o deserto em pântanos

e a terra seca em nascentes de água.

- Isaías 41



O Dr. Pedro Inácio - coordenador dos museus da água - escreveu para o catálogo um texto de abertura.

Sopro Ardente da Água

É com muito prazer que o Museu da Água acolhe no espaço dos Barbadinhos o trabalho artístico de Manuela Justino, intitulado por "Sopro de Água".
Através desta exposição, fotografia e pintura, a artista propõem-nos uma reflexão atenta sobre a força vital e respiratória da água. Um verdadeiro momento de alento para se descobrir e sentir o património edificado relacionado com os sons e a memória da água, a qual durante séculos, jorrou por bicas e carrancas dos chafarizes de Lisboa.
Recordemos na história dos nossos antepassados um constante Sopro de Água, necessário para captar, transportar e distribuir água potável, método essencial para saciar a sede a todos os seres vivos.
recordemos também por breves instantes os cânticos de lavadeiras e os pregões de águadeiros que mantinham a cidade tão refrescante como bucólica, dando cor e alegria às ruas de Lisboa, agora cingidas aos sonhos e recordação de outros tempos da água.
recordemos ainda as nascentes, os aquedutos e as fontes já demolidas, debilitando a rota espiritual e física da água.
Desse espírito e dessa energia (inseparáveis), observa-se uma cumplicidade entre o trabalho da artista com o passado e futuro da água.
Mais do que o entendimento do espaço e do tempo, torna-se determinante a mensagem pictórica da autora, bem fundamentada por uma selecção e pinturas que nos convida a reviver e a imaginar a água como fonte inseparável da vida.
A Manuela Justino um agradecimento muito especial, pela delicadeza desta mostra e pela sensibilidade de nos (en)cantar com a sua arte, o sopro ardente da água.

- Pedro Inácio


PINTURA


















Pintura de Manuela Justino
A dimensão dinâmica do gesto na apropriação do espaço líquido e translúcido

Com longa prática de tapeçaria, a que se dedica desde 1970, Manuela Justino licenciou-se em Pintura, em 1975, na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Tapeçaria e pintura surgem inter-relacionadas na sua formação artística. Em 1995, tive oportunidade de prefaciar uma exposição de tapeçaria, a que chamei “estruturas, relevos ou percursos tácteis” por realçar a tactilidade da textura têxtil, em rigorosas composições abstratas-geométricas, que se definem como relevos de parede, oscilantes entre a pequena dimensão do objecto intimista e ornamental, á escala da mão, e a maior dimensão da tapeçaria propriamente dita, que aspira á monumentalidade do mural, onde amplia e simplifica a estrutura minimalista. Em ambos os casos, a textura e a estrutura são os elementos primordiais de uma arte que não abdica da sua vocação de decorativa, no espaço privado e acolhedor da casa/habitação, arquétipo do universo feminino. A esta linguagem que domina com rigor e apurada sensibilidade estética, contrapõe-se a actual pintura de Manuela Justino, que irrompe inesperadamente mais solta e espontânea. Ao tentar libertar-se do anterior rigor geométrico da tapeçaria, a sua pintura expande-se num informalismo gestual e desenfreado, evocando o “dripping” e a “action painting “ de Pollock. A energia do gesto e a sua dissolução espacial identifica-se com a fluidez, a transparência e o movimento da água. Sopros de água, olhos de águas e caligrafias líquidas invadem o espaço com círculos concêntricos e espiralados, que se repetem e se prolongam obsessivamente até ao infinito. Sucessivas telas de médio e grande formato valorizam o azul da água em contraste com a terra-ocre e o luminoso laranja-solar. No plano frontal do suporte, o relevo texturado com areia e cola contrapõe-se á fluidez da pintura diluída e transparente que, a uma escala maior evoca os nenúfares de Monet. Entre o fluxo irreverente da complexidade pictórica e a simplicidade formal dos desenhos-colagens, dissolve-se o sentido emblemático da sua linguagem visual e táctil, a que acrescenta a dimensão gestual, capaz de criar um espaço contínuo, que se pode prolongar para alem dos limites do suporte. Nessa envolvência espacial, o ar, a água, a luz e o movimento dissolvem-se na mesma imagem, onde a água prevalece como elemento primordial que, em si mesmo, contem todos os elementos, nomeadamente a transparência luminosa e o ritmo da ondulação sem fim. Em desenho-colagens e em telas que se podem justapor como fragmentos de séries inter-relacionáveis, formando conjuntos de grande dimensão, de surpreendente impacto visual, reafirma-se a necessidade de recuperar a simplicidade da forma, em estruturas elementares de recentes composições minimalistas. Assim, a pintura reabilita a disciplina do desenho e da tapeçaria, mas com outro grau de liberdade expressiva, mais solta, mais flexível ou menos rígida, ampliando o sentido da sua linguagem plástica numa nova perspectiva estética.

- Eurico Gonçalves


COLAGENS




GALERIA









Tenor Carlos Cardoso


Família Amado

Família Justino

Dr. Álvaro Esteves e Drª.Vera Silva

Mariazinha Petronilho e Dr. Pedro Inácio

Pintores Carmo Pólvora e Eduardo Nery

Teresa Puga

Isabel Wolmar e Dr.Pedro Inácio

Crítica de Arte Mª João Fernandes


Drª. Licínea Martins e Dr. Ilídio Martins

Drª. Naír Neves

Isabel Wolmar

Dr. Eduardo Neves


Dr.ª Fátima Fatela e Dr.ª Cristina Taborda

João Prates